29.12.11

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Poeta, escritor, jornalista, filósofo, Herculano Pires foi um estudioso da Doutrina Espírita, e um de seus maiores divulgadores. Autor de mais de 80 obras, a maioria dedicada ao Espiritismo, foi o grande defensor da pureza doutrinária, tendo sido definido por Emmanuel, por intermédio de Chico Xavier como “o metro que melhor mediu Kardec”.




Quinta-feira, 29 de dezembro de 2011




A CRUZADA DE PAPAI NOEL

Por Jorge Rizzini

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Tinha Herculano Pires nessa fase de sua vida três preocupações: o Espiritismo, a arte literária e as crianças mendigas de Cerqueira César. Se pudesse realizar algo em benefício delas!

Foi em novembro de 1936 que o escritor Elias Salomão Farah, uma alma caridosa, falou a Herculano Pires da necessidade de se fazer um Natal risonho para as pobres crianças. Herculano (tinha ainda vinte e dois anos de idade) exultou com a ideia, pois já havia publicado crônicas sobre a infância abandonada; páginas que reuniu em dois livretos intitulados Abandono da Infância e Flores Murchas, este último tratando da carência de assistência médica à criança na região Média Sorocabana. Juntaram-se depois a Herculano Pires e Salomão Farah o alfaiate José Ramos, o Chiquinho Lanças, o Moreira e, entre outros, Adalberto de Assis Nazaré, um médico baiano, mulato, de nariz afilado e traços fisionômicos de branco e que era, no dizer de Herculano Pires, homem de grande inteligência, muito competente em sua profissão e humano em todos os sentidos. O primeiro Natal das crianças pobres foi uma festa emocionante. O italiano Marcon, fantasiado de Papai Noel, entrou na cidade e foi recebido por uma banda de música que não parou de tocar. O cortejo, aumentando sempre, seguiu pela rua do Matadouro até o Largo da Igreja, onde roupas, calçados e alimentos foram distribuídos às crianças carentes.

Herculano Pires em seu livro Os Sonhos Nascem na Areia chamou, carinhosamente, essas crianças de "flores da miséria", porque além da penúria em que viviam havia, ainda, as doenças...

A distribuição natalina, porém, aumentava de ano para ano. Então, Herculano Pires apresentou a ideia de se criar a "Cruzada Papai Noel", que funcionaria o ano todo em uma pequena sala alugada que seria, também, ambulatório médico. O Dr. Nazaré prontificou-se, imediatamente, a dar assistência gratuita às crianças. E, assim, o Natal dessas criaturinhas infelizes passou a ser permanente...

A primeira diretoria da Cruzada Papai Noel ficou, assim, constituída: presidente, José Herculano Pires; secretário, prof. Enos de Abreu Sodré; tesoureiro, Dadício de Oliveira Baulet, companheiro de Herculano Pires na direção do Centro Espírita Humberto de Campos. A Assembleia Geral da Cruzada que elegeu a primeira diretoria foi realizada em 8 de agosto de 1938 na casa do escritor Luís Aguiar. Herculano contava vinte e quatro anos de idade.

As funções da Cruzada com o decorrer do tempo foram ampliadas. Passou o ambulatório a atender doentes pobres de qualquer idade. O médico Adalberto de Assis Nazaré desdobrava-se. Mas o padre Julianetti não via com bons olhos a Cruzada Papai Noel pelo fato de que sua diretoria não levava as crianças à igreja, além de cometer a "heresia" de exaltar Papai Noel ao invés de Cristo... E passou a atacar publicamente a instituição. Como alguns associados com boas condições financeiras mudaram-se da cidade e o prof. Enos tornou-se portador de tuberculose pulmonar galopante, a Cruzada entrou em decadência. O padre continuou a atacá-la. Logo depois Elias Salomão Farah contraiu tuberculose. Herculano Pires, então, pessoalmente e através das colunas de seu jornal, pediu à Prefeitura de Cerqueira César encampasse o Ambulatório Infantil da Cruzada Papai Noel, pois a cidade não possuía Posto de Saúde... Mas as crianças paupérrimas não tiveram sorte: o capitão Moura Leite, que era o prefeito e fabricante do Requeijão Maravilha, atendeu o pedido, mas deixou que o ambulatório em pouco tempo ficasse coberto de teias de aranha...

Herculano Pires, mais tarde, rememorando o doloroso episódio, escreveu, transbordando amor:

"Eram lindas e delicadas as flores da miséria; bebês de olhinhos vivos, loiros, morenos, negros, castanhos, que refletiam em suas pupilas inocentes a esperança de viver; garotinhos espertos que murcharam lentamente ao efeito das verminoses e da disenteria; moleques de faces pálidas ou amareladas, como flores de guanxuma, que lutavam contra a fome e as endemias devastadoras; anjos desprevenidos que desceram à Terra esperando melhorá-la e não encontraram a proteção dos homens; centenas de criaturinhas mimosas e tenras que precisavam de leite e carinho, mas só encontraram água com açúcar mascavo ou de rapaduras, desconforto e abandono."

Quanto ao caridoso médico Adalberto de Assis Nazaré, conta Herculano Pires que "morreu em Assis, para onde se mudara, ao atender uma parturiente, a altas horas da noite. Estava em repouso, por causa de uma crise cardíaca, mas ao saber que a parturiente não tinha um médico que a pudesse assistir, levantou-se, fez o parto, entregou a criança à enfermeira e lhe disse: "Ela chega para ocupar o meu lugar." E caiu morto.